O enigma da existência em LAVOURA ARCAICA de Raduan Nassar
“Não tive o meu contento, o mundo não terá de mim a misericórdia” (Nassar, 1989, p.138)
A epígrafe acima citada ilustra, de forma redundante, o abandono da lavoura das palavras para a lavoura real, empreendimento realizado pelo mais festejado escritor paulista Raduan Nassar que afirmou: “não há criação artística ou literária que valha uma criação de galinhas” (apud Steen, 1982, p. 260)
Em Lavoura arcaica (obra consagrada e premiada pela crítica brasileira), a personagem André (‘eu’ em árabe), num radicalismo exacerbado, despede-se da literatura de forma colérica e frustrativa, vindo a realizar o desejo de Nassar, o desejo de silenciar por completo. Nassar “retornou à ordem natural dos animais que é mais silenciosa, mas também mais previsível” (apud Castello, 1999, p.175)
Construído a partir de fragmentos de textos diversos, de forma não sincrônica, o primeiro capítulo de nossa monografia intitulado “Raduan Nassar – homem comum pelas limitações”, tem o objetivo de mostrar a vida de um dos maiores escritores contemporâneos que se considera apenas ‘homem comum’, bem como sua obra e sua época.
O segundo capítulo com o título “Sartre – Camus: uma relação de oposição dentro do existencialismo” explana, de forma breve e em linhas gerais, o existencialismo, e ao mesmo tempo, apresenta as diferenças existentes entre esses dois grandes escritores e filósofos filiados a essa corrente filosófica.
O terceiro capítulo “A cólera, o niilismo e a metafísica: uma temática constante em Lavoura arcaica” traz a conceituação de cólera, niilismo e metafísica e apresenta uma análise temática da obra abordada, mostrando as marcas existenciais presentes no texto.
Primeiramente, propomos uma definição para o verbete enigma, definido e tratado em nossa pesquisa como ‘sentido’, portanto tentamos mostrar o sentido do existencialismo ali presente.
Em vários momentos da narrativa, a cólera representará a exacerbação da prática transgressora. Na iniciação sexual de André com a cabra Schuda, nota-se que o animal é tido pelo garoto como um objeto que precisa de cuidados eróticos: “eu a conduzi com cuidados de amante extremoso... era de seu corpo que passei a cuidar no entardecer” (Nassar, 1989, p. 20)
No fragmento “eu estava era escuro por dentro” (Nassar, 1989, p. 16), a escuridão é a mais concreta certeza do vazio, do nada, da descrença enfrentada pelo narrador-personagem André.
Os temas metafísicos apresentados simbolicamente resumem a questão da ordem familiar que consiste no amor, no trabalho e na aceitação do tempo: “a terra, o trigo, o pão, a mesa, a família (a terra); existe neste ciclo, dizia o pai nos seus sermões, amor, trabalho, tempo” (Nassar, 1989, p. 183)
O desafio fundamental do nosso trabalho foi desvelar o texto literário citado, encontrando nele indicadores do pensamento existencialista, estabelecendo uma série de interrelações entre as idéias de Nassar e aquelas de Camus e Sartre (dois grandes escritores e filósofos filiados ao existencialismo).
Para Sartre, o absurdo é resultado de uma experiência interior, de angústia devido à condição humana que é humilhada, ao contrário de Camus, que vê a grandeza no homem. No homem que enfrenta o destino, que revolta, que protesta e que ainda cria os seus próprios valores. A criação de valores pela ação, o engajamento e a liberdade são marcas do existencialismo e de Camus. Esse homem camusiano que olha de frente (en-frenta) o mundo e que luta contra ele, criando os seus valores contra o absurdo, vindo a substituir o inumano pelo humano é André, o filho pródigo, a ovelha negra da família, o acometido, o tresmalhado de Lavoura arcaica – personagem das mais fortes da nossa literatura.
O absurdo é generalizado por Sartre, para Camus ele se encontra na relação homem-mundo, tornando-se ação e revolta. Seguindo os preceitos camusianos, André se revolta e deixa a família patriarcal. O vocábulo liberdade se aproxima da palavra sujeição, na visão de Sartre, entendida por Camus como libertação. Não se sujeitando ao discurso paterno, André busca a libertação proposta por Camus.
A corrente filosófica denominada existencialismo apregoa a ‘vivência existencial’ difícil de ser definida, ao passo que para Raduan Nassar a existência se apresenta como ‘leitura da vida’.
“Não tive o meu contento, o mundo não terá de mim a misericórdia” (Nassar, 1989, p.138)
A epígrafe acima citada ilustra, de forma redundante, o abandono da lavoura das palavras para a lavoura real, empreendimento realizado pelo mais festejado escritor paulista Raduan Nassar que afirmou: “não há criação artística ou literária que valha uma criação de galinhas” (apud Steen, 1982, p. 260)
Em Lavoura arcaica (obra consagrada e premiada pela crítica brasileira), a personagem André (‘eu’ em árabe), num radicalismo exacerbado, despede-se da literatura de forma colérica e frustrativa, vindo a realizar o desejo de Nassar, o desejo de silenciar por completo. Nassar “retornou à ordem natural dos animais que é mais silenciosa, mas também mais previsível” (apud Castello, 1999, p.175)
Construído a partir de fragmentos de textos diversos, de forma não sincrônica, o primeiro capítulo de nossa monografia intitulado “Raduan Nassar – homem comum pelas limitações”, tem o objetivo de mostrar a vida de um dos maiores escritores contemporâneos que se considera apenas ‘homem comum’, bem como sua obra e sua época.
O segundo capítulo com o título “Sartre – Camus: uma relação de oposição dentro do existencialismo” explana, de forma breve e em linhas gerais, o existencialismo, e ao mesmo tempo, apresenta as diferenças existentes entre esses dois grandes escritores e filósofos filiados a essa corrente filosófica.
O terceiro capítulo “A cólera, o niilismo e a metafísica: uma temática constante em Lavoura arcaica” traz a conceituação de cólera, niilismo e metafísica e apresenta uma análise temática da obra abordada, mostrando as marcas existenciais presentes no texto.
Primeiramente, propomos uma definição para o verbete enigma, definido e tratado em nossa pesquisa como ‘sentido’, portanto tentamos mostrar o sentido do existencialismo ali presente.
Em vários momentos da narrativa, a cólera representará a exacerbação da prática transgressora. Na iniciação sexual de André com a cabra Schuda, nota-se que o animal é tido pelo garoto como um objeto que precisa de cuidados eróticos: “eu a conduzi com cuidados de amante extremoso... era de seu corpo que passei a cuidar no entardecer” (Nassar, 1989, p. 20)
No fragmento “eu estava era escuro por dentro” (Nassar, 1989, p. 16), a escuridão é a mais concreta certeza do vazio, do nada, da descrença enfrentada pelo narrador-personagem André.
Os temas metafísicos apresentados simbolicamente resumem a questão da ordem familiar que consiste no amor, no trabalho e na aceitação do tempo: “a terra, o trigo, o pão, a mesa, a família (a terra); existe neste ciclo, dizia o pai nos seus sermões, amor, trabalho, tempo” (Nassar, 1989, p. 183)
O desafio fundamental do nosso trabalho foi desvelar o texto literário citado, encontrando nele indicadores do pensamento existencialista, estabelecendo uma série de interrelações entre as idéias de Nassar e aquelas de Camus e Sartre (dois grandes escritores e filósofos filiados ao existencialismo).
Para Sartre, o absurdo é resultado de uma experiência interior, de angústia devido à condição humana que é humilhada, ao contrário de Camus, que vê a grandeza no homem. No homem que enfrenta o destino, que revolta, que protesta e que ainda cria os seus próprios valores. A criação de valores pela ação, o engajamento e a liberdade são marcas do existencialismo e de Camus. Esse homem camusiano que olha de frente (en-frenta) o mundo e que luta contra ele, criando os seus valores contra o absurdo, vindo a substituir o inumano pelo humano é André, o filho pródigo, a ovelha negra da família, o acometido, o tresmalhado de Lavoura arcaica – personagem das mais fortes da nossa literatura.
O absurdo é generalizado por Sartre, para Camus ele se encontra na relação homem-mundo, tornando-se ação e revolta. Seguindo os preceitos camusianos, André se revolta e deixa a família patriarcal. O vocábulo liberdade se aproxima da palavra sujeição, na visão de Sartre, entendida por Camus como libertação. Não se sujeitando ao discurso paterno, André busca a libertação proposta por Camus.
A corrente filosófica denominada existencialismo apregoa a ‘vivência existencial’ difícil de ser definida, ao passo que para Raduan Nassar a existência se apresenta como ‘leitura da vida’.