terça-feira, 3 de março de 2009

Resumo: Memórias de um sargento de milícias (Manuel Antônio de Almeida – é o romancista de costumes de nossa Literatura)

- o romance de costumes tende para a norma, para a caracterização de tipos mais do que para análise de pessoas.
- no Correio Mercantil, publica sob o pseudônimo Um Brasileiro, esparsamente, as Memórias de um sargento de milícias.
A obra é dividida em duas partes: a 1ª tem 23 capítulos
e a 2ª, 25 capítulos.
Estrutura da obra:
- os episódios são escritos de forma autônoma, mostrando-se como uma seqüência de situações, ou seja, pequenos relatos cuja unidade é dada a partir do protagonista, Leonardinho (os críticos consideram-na uma novela, por causa dessa autonomia dos capítulos, em lugar de romance).

- podemos considerar que “Memórias de um sargento de milícias” constitui a primeira afirmação do nacionalismo em nossas letras, libertando-se dos padrões discursivos lusitanos e empregando não só personagens suburbanas, mas também o linguajar do povo. Essa renúncia ao estilo vigente na época é o principal fato da grandeza da obra.

- a obra constitui um verdadeiro painel dos tempos de D. João VI, uma crônica dos subúrbios cariocas e das diabruras de um certo Leonardinho, verdadeiro paladino da mentira e da vadiagem, anti-herói e peralta-mor.

- nessa obra, tudo tem cheiro de povo, sem “frescuras” ou formalidades. Cria-se num mundo carnavalesco, onde a indústria não havia estancado o artesanato, e a sobrevivência fazia-se na base da parceria, da troca de bens, da amizade ou mesmo do furto esporádico, simples desaperto. Um mundo onde a ordem (aristocracia lusitana e funcionalismo público) se confunde com a desordem (rebeldia e independência do zé-povinho)

- a obra contraria a solenidade retórica dominante, que é substituída pelo tom humorístico e caricatural, mais próximo do gênero picaresco

Foco narrativo: romance é narrado na 3ª pessoa por um narrador onisciente, mas que interfere na narrativa muitas vezes, justificando a obra ou tentando dialogar com o leitor (leitor incluso)

Ação: dinâmica e contínua, criando uma atmosfera de romance de aventuras, graças às estripulias do picaresco Leonardinho e da troca contínua dos pares amorosos.

Tempo: cronológico, estabelecido pela 1ª frase do livro: “era no tempo do rei”.(A ação narrativa passa-se nas primeiras décadas do século XIX.)

Espaço: é o Rio de Janeiro, mostrado de forma realista e através de descrições precisas do centro velho e dos subúrbios, de onde saem as personagens.

Personagens: formam uma galeria de tipos populares dos subúrbios do Rio de Janeiro, composta de meirinhos, parteiras, granadeiros, vadios, sacristãos, brancos, pardos e pretos – elementos do povo, de todas as raças e profissões.

1 - Leonardo Pataca:
- era alfaiate em Portugal e torna-se oficial de justiça no Rio.
- mulherengo, espertalhão e interesseiro
- casa com Maria Hortaliça – cigana – e termina com Chiquinha, que é filha da Comadre.

2 – Maria Hortaliça:
- era verdureira em Portugal
- mulher infiel

3 – Leonardinho:
- protagonista da obra
- é um anti-herói típico: peralta, malandro, vadio e especialista em pregar peças e preparar vinganças (Representa o herói pícaro, que não serve de exemplo para ninguém)
- em lugar do herói idealizado e mítico, surge um anti-herói (herói pícaro), talhado bem próximo da realidade humana e sujeito a defeitos e atrapalhações que não condiziam com os modelos a serem seguidos pelo Romantismo

4 – Comadre:
- madrinha de Leonardinho
- parteira e benzedeira

5 – Compadre:
- padrinho de Leonardinho
- barbeiro por profissão, desonesto

Vários personagens não têm nome no livro, mas são designados pela profissão ou condição social que possuem: parteira, barbeiro.
Quando um personagem desses fala ou age, tem-se a impressão de um grande movimento, pois neles vislumbram-se todo o grupo social a que pertencem. Esta é uma das razões para considerar a obra como um dos livros mais vivos e dinâmicos da Literatura Brasileira.

6 – Luisinha:

- enteada de D. Maria
- casa-se com José Manuel (Após a morte do marido, casa-se com o protagonista)

7 – Vidinha:
- moça por quem Leonardinho se apaixona
- toca e canta modinhas
- é o elogio da mulata nacional, retratada ao natural, opondo-se às donzelas sonsas do Romantismo

8 – Major Vidigal:
- personagem histórico. É chefe dos granadeiros - representa a autoridade policial
- homem que causa respeito e medo nas pessoas

9 – D. Maria:
- tem mania de demandas judiciais, acaba sendo tutora de Luisinha

10 – Outras personagens:
- Maria Regalada, José Manuel e Teotônio (tocador)

Estilo: linguagem simples, clara, próxima da oralidade e do coloquialismo, condizente com o estilo jornalístico da obra. (valorização do coloquialismo, a fala mais popular das personagens, gente miúda saída dos arredores mais humildes da cidade do Rio de Janeiro

Temática: críticas ao autoritarismo policial, à religião, ao clero imoral, ao interesse econômico, ao casamento como meio de ascensão social e à vadiagem como meio de vida. Há, ainda, uma espécie de paródia do próprio Romantismo, montado nessa obra às avessas, abandonando os adocicados finais felizes para deixar nas entrelinhas uma sucessão de fatos tristes que poderiam vir a acontecer

Estilo individual:
O estilo da obra, bem como de seu autor, apresenta tendências bem pessoais e marcantes:
a) linguagem bem coloquial, marcada por incorreções e linguajar lusitano, interiorano ou das periferias de Lisboa, lembrando que boa parte das personagens são imigrantes portugueses ou gente simples do povo
b) ausência de personagens idealizadas e de análise psicológica: o romance focaliza os costumes, hábitos e cacoetes das personagens de camadas sociais inferiores, numa construção mais realista da sociedade suburbana do início do século XIX
c) presença do humorismo, do ridículo e do burlesco: o tom geral da obra segue a tendência da gozação, marcado que está pela construção de personagens que tendem para o caricatural, para o mais absoluto ridículo. A essa tendência chamamos carnavalização
d) presença da ironia
e) presença da metalinguagem: a obra volta-se para si mesma, comentando os procedimentos que estão sendo empregados: palavras utilizadas, explicações sobre capítulos ou personagens que desaparecem de cena
f) presença de digressões: a narrativa não segue a ordem linear dos fatos, é episódica e, não raro, foge da história para comentar fatos paralelos ou para dar explicações sobre o próprio livro
g) presença do narrador intruso, que o tempo todo se intromete para dar explicações, analisar fatos ou personagens e conversar com o leitor. (leitor incluso)
h) presença do leitor incluso, com quem o narrador procura estabelecer conversação: “por estas palavras vê-se que ele suspeitara alguma coisa, e saiba o leitor que suspeitara a verdade”

Manuel Antônio de Almeida
- Rio de Janeiro (1831)
- abandonou o curso de desenho na Academia de Belas Artes
- filho de família pobre
- formou-se em medicina – RJ – em 1855 – mas não exerceu
- foi administrador da Tipografia Nacional
- faleceu em 28/11/1861 no naufrágio do vapor Hermes

Memórias de um sargento de milícias distancia-se da média da sensibilidade romântica pelas seguintes razões:
1 – a história não envolve personagens da classe dominante, mas sim de pessoas de baixa renda,
2 – o personagem central não é herói nem vilão, trata-se de um anti-herói malandro, de natureza picaresca,
3 – as cenas não são idealizadas, mas reais, apresentando aspectos pouco poéticos da existência,
4 – ausência de moralismo e recusa da idéia de que as ações humanas se dividem necessariamente entre boas e más,
5 – troca de sentimentalismo pelo humorismo, do estilo elevado e poético pelo estilo tosco e direto, sem torneios embelezadores,
6 – o estilo é oral e descontraído, diretamente derivado da conversa ou do estilo jornalístico da época.

Enredo:
O romance se passa “no tempo do rei” isto é, antes da proclamação da independência. Inicia-se com a vinda dos portugueses Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça para o Brasil. O namoro entre ambos começa ainda a bordo, com “uma valente pisadela” de Leonardo no pé de Maria, a que esta revida com um “tremendo beliscão”. Vão morar juntos e dessa união nasce Leonardinho. Com a separação do casal, o menino, então com sete anos, passa aos cuidados do “compadre”, um barbeiro solteirão que, pretendendo educá-lo, lhe faz todas as vontades. Anos depois, a “comadre” (que não tem parentesco algum com o “compadre”) tenta favorecer o namoro de Leonardinho com Luisinha, sobrinha e herdeira de uma senhora rica. O namoro não dá certo e Luisinha casa-se com José Manuel. Leonardinho provoca inúmeras confusões, acaba preso pelo terrível Major Vidigal, mas escapa da cadeia e, tempos depois, ingressa nas milícias, onde chegará ao posto de sargento. Reencontra Luisinha, agora viúva, com quem finalmente se casa.

Boa leitura!

Um comentário:

  1. oi Amancio adorei o resumo...facilitou para eu etender melhor o livro.

    te adoro beijos

    Mariana da wizard

    =D

    ResponderExcluir