terça-feira, 3 de março de 2009

Resumo: Vidas Secas (Graciliano Ramos)

Movimento literário: Modernismo (Geração 1930/1945)
2ª fase: estabilidade: preocupação ideológica (mostrar para o leitor uma visão nova de ver o mundo)
- a arte engajada está presa na denúncia crítica da sociedade
- literatura mais preocupada com o CONTEÚDO ( o importante é o que eu escrevo) e não com a FORMA
- romance proletário: o empregado é objeto de estudo.

Início do romance regionalista nordestino – 1928 – A Bagaceira de José Américo de Almeida
O Regionalismo engajado dos anos 1930 teve no autor de Vidas Secas seu ponto alto. O homem hostilizado pelo ambiente, devorado pelos problemas que o meio lhe impõe, fica acuado, como animal, incapaz de lutar contra adversidades e injustiças. Aceita a fome, a miséria, a seca e a dor de viver sem projetos.

Vidas Secas: (1938) – romance social e psicológico (obra marcada pelo fenômeno da seca)
O título da obra poderia ser “Sobrevidas Secas” (Nada em suas vidas é definitivo, nada é seguro, nem mesmo a própria identidade)
Determinismo: o meio os transforma, a vida é seca. Eles têm tudo para ser homens internamente, mas o meio os impede; não realizam o seu potencial humano e acabam virando coisa = coisificação ou reificação.

- narrado em 3ª pessoa
- onisciência do narrador: mostra a miséria e a situação precária do mundo exterior.
- discurso indireto livre: revela o interior das personagens (instrumento de análise comportamental e psicológica)
O discurso indireto livre dá ao narrador-observador um posicionamento discreto: sua “voz” quase se confunde com a das personagens.

Enredo: um grupo de nordestinos, composto por Fabiano, a mulher (Sinhá Vitória), dois filhos, uma cadela (Baleia) e, no início, um papagaio batem em retirada. Para a sobrevivência do grupo, é travada uma luta incessante, incluindo o sacrifício do papagaio e a mesquinha contribuição de Baleia através da caça de um preá, servindo para adiar a morte do grupo. Após tempos de caminhada, abrigam-se em uma fazenda abandonada, vêm as chuvas, Fabiano oferece seus préstimos de vaqueiro e continua na fazenda consciente de sua transitoriedade naquelas paragens, quer porque o patrão poderia expulsá-los a qualquer instante, quer pela seca, terror constante por ser um processo cíclico e real. Nesse intervalo, Baleia morre. Quase desamparados, partem em busca de novas terras quando chegam as secas, mas desta vez fugindo para a cidade grande, acalentados pela esperança de uma vida melhor.
Dois elementos constitutivos de Vidas Secas podem ser destacados: a paisagem, a linguagem e o problema social, todos eles entrelaçados.

- 13 capítulos: a leitura não precisa ser direcionada e linear e o tempo não é cronológico.
- romance, mas pode ser considerada contos = estórias autônomas.

Espaço: amplitude da caatinga, numa certa fazenda perto de um povoado indeterminado.
- essa região apresenta como característica dominante o clima tropical semi-árido, com chuvas escassas e irregulares

Obra cíclica: inicia com a chegada e termina com a partida.
1º capítulo- Mudança: traz os retirantes fugindo da seca e se refugiando na mesma região, defrontando-se com o espaço de uma fazenda abandonada.
13º capítulo – Fuga: a família parte para outra região, onde enfrentará o desconhecido que se lhe afigura paradoxalmente como esperança e medo. Eles partem em busca de uma vida melhor, mais cheios de questionamentos.
O problema social tratado em Vidas Secas é extremamente brasileiro e de âmbito regional. A seca gera miséria e a miséria, a morte e a desolação. Neste sentido, é lícito pensar que não sobram alternativas para os retirantes a não ser as migrações contínuas de terra para terra, na mesma região, caracterizando a mudança; ou de região para região transfigurando-se em fuga.
O capítulo inicial “Mudança” e o final “Fuga” oferecem ao leitor dados suficientes para perceber que a trama se desenrolará entre duas estiagens.
Nada se altera: “Mudança” e “Fuga” distinguem-se apenas no nome; são rotas de quem pretende desviar-se da morte.
- miséria do mundo físico (paisagem) x ausência de domínio lingüístico
- discurso indireto livre: força interior atribuída pelo autor às personagens
- interjeição: hum = exprime dúvida, desconfiança.

2º Fabiano:
- o nome Fabiano (dicionário do Aurélio) significa indivíduo inofensivo, pobre diabo. Indivíduo qualquer, desconhecido, João-ninguém.
- Fabiano constitui-se, num herói problemático, marcado pela contradição entre a revolta e a passividade.
- desconfiado, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra. Ele não se define como gente = está em conflito com o meio em que vive e com as pessoas que o rodeiam. Profundo sentimento de inferioridade.
- cambaio, barba ruiva e suja, rosto queimado, olhos azuis, cabelos ruivos
- ele achava que todos estavam contra ele
- falava por meio de exclamações e onomatopéias (incapacidade de falar e pensar)
- ele é um bicho/homem ou homem/bicho (zoomorfização: processo usual entre os escritores naturalistas)
- alimentava-se de “raiz de imbu” e “sementes de mucunã”
- compara a si mesmo e a família a ratos. Identifica-se como cabra, forma nordestina de se referir a pessoas de nível social inferior. Orgulha-se por se sentir como um bicho. Assemelha-se a um macaco. Progressivamente conscientiza-se de sua condição inferior.
- tensão crítica entre o humano, o geográfico e o social.
- civilização do couro: gira em torno do gado. Fabiano é um vaqueiro.
A morte do grupo é adiada por dois motivos: o sacrifício do papagaio e o preá caçado por Baleia.

4º Sinhá Vitória:
- sonho: cama de lastro de couro (símbolo de estabilidade e de felicidade)
- rosto moreno e olhos pretos
- sonha com escola para os filhos, vida digna
- queria vida e não sobrevida
- versão feminina de Fabiano

Círculo vicioso: eles não têm nome = perpetuarão o mesmo tipo de vida dos pais)
5º O menino mais novo: era magro, olhos tímidos, sonhava em ser como o pai e
6º O menino mais velho: queria saber sobre o inferno e tinha braços magros e dedos finos.

9º Baleia:
- é espontânea e comunicativa (vence a incomunicabilidade)
- é guia, pois indica a direção a ser tomada
- responsável pela sobrevivência do grupo (caça preás)
- é companheira das crianças (nas brincadeiras) e dos adultos ( no trabalho)
- é vista como gente (antropomorfismo)
- a consciência trágica da vida e da família está na cachorra Baleia
Emagreceu, o pêlo caiu, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida. Fabiano achou que ela estivesse com um princípio de Hidrofobia e amarrara-lhe no pescoço um rosário de sabugos de milho queimados. Ela piora e Fabiano decide matá-la (Baleia recebe um tiro)

Soldado Amarelo:
- símbolo da repressão gratuita da autoridade
dois capítulos:
3º Cadeia:
- subjuga Fabiano e todos aqueles que como ele vivem e

11º Soldado Amarelo:
- referência à covardia desta mesma autoridade quando distante do distintivo, emblema, divisa.
- o adjetivo amarelo pode referir-se ao cáqui da farda, à cor doentia do sertanejo e o pavor do soldado quando distante do destacamento policial.
Fabiano é convidado por um soldado amarelo para jogar cartas. Acaba sendo empurrado pelo soldado amarelo, por abandonar o carteado. Dizendo-se desrespeitado, o soldado pisa no pé de Fabiano, que retruca xingando-lhe a mãe. O soldado dá um apito e todo o destacamento aparece para apoiar a voz de prisão de Fabiano.
Fabiano é surrado, recebendo golpes de facão no lombo, passa a noite a remoer sua revolta, em completo estado de confusão mental.
Fabiano tentava vender um porco quando foi surpreendido pelo fiscal da prefeitura, além de multá-lo por vender carne sem pagar imposto, o funcionário o insultara e o escorraçara do lugar.

10º Contas:
- são feitas por sementes (adição e subtração)
- exploração do homem: Patrão = poderio da palavra ( explorador insensível do sofrimento humano)

Não há progressão social:
Patrão (é sempre patrão) x empregado(é sempre empregado) = círculo vicioso (A diferença nas contas era proveniente de juros) justifica o patrão.
Intimidade da família:
7º Inverno: fala do desconforto sofrido em uma noite chuvosa, típica do inverno dessas regiões, quando todos estão encolhidos ao redor de uma fogueira sofrendo perturbações atmosféricas (umidade)
A água é, ao mesmo tempo, sinônimo de fertilidade e de destruição e morte.
8º Festa: focaliza-os em um dia de Natal na feira da cidade. (Fabiano percebe a diferença social)
Fabiano comprara tecido em quantidade insuficiente, as roupas haviam ficado curtas e apertadas. A sensação de ridículo aumenta com o desconforto e a falta de hábito de usar sapatos: o constrangimento quase anula o deslumbramento.
Capítulo mais dramático 12º “O mundo coberto de penas”: relata a luta incessante que os animais, inclusive o homem, travam na constante luta pela sobrevivência.
As aves de arribação anunciavam novo ciclo de seca. (Elas constituem um símbolo ambíguo: de um lado, acentuam os efeitos da seca, porque bebem a pouca água existente ; de outro, servem de alimento e, temporariamente, impedem que a família morra de fome.

Seu Tomás da Bolandeira: surge, neste contexto, como um ser posto entre o humano e o divino (Macunaíma), tornando-se o símbolo do saber, da humanidade e da justiça.
- amarelo e corcunda, sisudo
- era conhecido por ter a máquina de triturar cana-de-açúcar e ralar mandioca, puxada por animais que movimentam uma roda grande, acionando o rolete da moenda.
- morreu por causa do estômago doente e das pernas fracas

Linguagem: a linguagem enxuta serve para caracterizar a ambientação seca e miserável do Nordeste.
O vocabulário parco (econômico) é para mostrar as ambições pequenas e limites estreitos para os pensamentos dos retirantes.
Frases curtas, diretas: remete apenas ao essencial, ao concreto descrito nas cenas.
A relação dos membros da família entre si e com o grupo é feita mais pela comunicação gestual e/ou onomatopaica que pela palavra, que, no entanto, é o dom supremo do ser racional.

Sinais ou Índices:
- trovão = tempestade
- aves de arribação = seca
- soldado amarelo = ódio
Superstição: um traço importante da personalidade de Fabiano é a crença quase absoluta nos poderes sobrenaturais.
Quando se vê em situações difíceis, o vaqueiro apela para as superstições:
. em Mudança, olha para o céu e se põe a contar estrelas, por achar que isso traria a chuva,
. em Fabiano, para curar uma novilha doente, monta uma cruz com gravetos e reza, fazendo o curativo nas pegadas que o animal deixara na areia,
. em O menino mais velho, considera que uma entidade protetora segurava-o na sela quando domava animais xucros,
. por fim, em O mundo coberto de penas, atemoriza-se com a possibilidade de Baleia, em quem dera um tiro, virar uma alma penada para vir assustá-lo.

4 comentários:

  1. Muito bom o blog, Amâncio. Você ai colocar o resumo do livro "O Guarani"?

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  2. realmente ajuda muito Amancio...
    Valeu pela dica
    Até mais

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  3. só faltou falar da metalinguagem que é muito importante, mas fora isso seu texto esta perfeito, me ajudou demais!

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