terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Resumo: "´Macunaíma" de Mário de Andrade

“Macunaíma” (Mário de Andrade)

-publicado em 1928, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, é uma das obras pilares da cultura brasileira. Revolucionária, desafiou o sistema cultural vigente com uma nova organização da linguagem literária.
- o livro é dividido em 17 capítulos e um epílogo. Tem como subtítulo “o herói sem nenhum caráter” e, curiosamente, não é classificado como romance, conto, novela, mas trata-se, segundo o autor, de uma rapsódia, uma epopéia às avessas, uma epopéia modernista.
- para Mário, a rapsódia é uma combinação de temas heterogêneos, assuntos variados, gêneros diversos e estilos diferenciados.
- ainda, com referência ao gênero literário, a obra aproxima-se da epopéia clássica, tendo em comum o traçado das aventuras de um herói sobre-humano, que reverte a realidade em prol do maravilhoso, fato que deve ser entendido como uma aproximação dos mitos e deuses pagãos para que eles intervenham na natureza da narrativa literária. Em Macunaíma, os seres do imaginário indígena afloram e intervêm na narrativa, mas, como não são entidades absolutas, podem ser trapaceadas, enganadas, boicotadas pelo herói.
- nacionalista crítica, porém sem ser xenófoba, Macunaíma é a obra que melhor sintetiza as propostas do movimento da Antropofagia, criado em 1928 por Oswald de Andrade com o objetivo de igualar a cultura brasileira às demais.
- Mário de Andrade e o Modernismo –
Foi a Semana de 22, com seus desdobramentos, que projetou Mário de Andrade como figura-chave do movimento modernista. Com determinação própria dos líderes que visam implantar uma nova consciência, ele multiplicou-se em músico, pesquisador de etnografia e folclore, poeta, contista, romancista, crítico de todas as artes, correspondente cultural, além de ter ocupado cargos na burocracia estatal, ligados ao desenvolvimento da cultura em geral.
- A rapsódia –
Mário conta que escreveu Macunaíma em apenas seis dias, deitado, bem à maneira de seu herói, numa rede na Chácara de Sapucaia, na cidade de Araraquara, interior de São Paulo, durante umas férias. Diz ainda: “Gastei muito pouca invenção neste poema fácil de escrever... Este livro afinal não passa duma antologia do folclore brasileiro”.
- Macunaíma é fruto de anos de pesquisa das lendas e dos mitos indígenas e folclóricos que o autor reúne utilizando a linguagem popular de várias regiões do Brasil. Trata-se de uma rapsódia. Este termo foi utilizado pelos gregos para designar obras como a Ilíada ou a Odisséia, de Homero, contendo séculos de narrativas poéticas orais, e resumindo as tradições folclóricas de todo um povo.

- Criando mitos –
Além de descrever vários mitos,Mário de Andrade também inventa outros, de maneira irônica. Apresenta os mitos da criação do futebol, do truco, do gesto da “banana” ou do termo “Vá tomar banho!” Há em Macunaíma, portanto, além da imensa pesquisa do autor, muita invenção.


- o Brasil na época de Macunaíma –
Quando Macunaíma surgiu, no final da década de 1920, a sociedade brasileira se mostrava bastante mudada. Já não tinha aquele ar de fazenda que respiramos por quatro séculos. O número de fábricas, especialmente em São Paulo, havia crescido, além dos grandes aglomerados urbanos, com população equivalente a 1 milhão de habitantes.Comércio e indústria prosperavam rapidamente, puxados pelo mercado consumidor formado por moradores das cidades e por colonos de origem estrangeira. Na esteira dessas alterações, as mulheres também mudavam seu comportamento: fumavam, iam sozinhas ao cinema e usavam roupas que deixavam as pernas mais à mostra.

- Cenário político –
Além da Semana de Arte Moderna de 1922, a década de 1920 foi marcada pelo surgimento do Partido Comunista e do movimento tenentista, que se opunham ao governo federal, oposição que teve seu clímax com a criação, por revolucionários paulistas, da Coluna Prestes – movimento que percorria 33 mil quilômetros do interior do Brasil, se envolvendo em mais de 100 combates entre 1924 e 1927.

- As fontes –
Mário de Andrade nunca escondeu que se inspirou na obra Vom Roroima zum Orinoco – Do Roraima ao Orenoco -, do etnógrafo naturalista alemão Theodor Koch-Grünberg, publicada em cinco volumes entre 1916 e 1924. Graças ao trabalho de Ivan Cavalcanti Proença, Roteiro de Macunaíma, é possível acompanhar como Mário de Andrade foi reelaborando as narrativas colhidas na obra de Koch-Grünberg, mesclando-a a outras fontes, como livros de Capistrano de Abreu, Couto Magalhães, Pereira da Costa ou mesmo a relatos orais, como o que o compositor Pixinguinha lhe fez de uma cerimônia de macumba, para ir tecendo sua rapsódia.

- Personagem ambíguo –
Nas palavras do poeta-crítico Haroldo de Campos, “o próprio Koch-Grünberg, em sua ‘Introdução ao volume’, ressalta a ambigüidade do herói, dotado de poderes de criação e transformação, nutridor por excelência, ao mesmo tempo, todavia, malicioso e pérfido”.
Segundo o etnógrafo alemão, o nome do herói tribal parece conter como parte essencial a palavra MAKU, que significa “mau” e o sufixo IMA, “grande”. Assim, Macunaíma significaria “O grande mau”, um nome , segundo observa Grünberg, “que calha perfeitamente com o caráter intrigante e funesto do herói”.

- Foco narrativo -
Embora predomine a fala da terceira pessoa, Mário de Andrade inova nesta obra ao utilizar uma técnica cinematográfica, a de cortes bruscos no discurso do narrador para dar lugar à fala dos personagens, especialmente de Macunaíma. A técnica imprime velocidade, simultaneidade e continuidade à narrativa. Exemplo: “Lá chegando ajuntou os vizinhos, criados a patroa cunhãs datilógrafos estudantes empregados-públicos, muitos empregados-públicos! Todos esses vizinhos e contou pra eles que tinha ido caçar na feira do Arouche e matara dois...
- ... mateiros, não eram viados mateiros, não, dois viados catingueiros que comi com os manos. Até vinha trazendo um naco pra vocês mas porém escorreguei na esquina, caí derrubei o embrulho e cachorro comeu tudo”. (CAP. XI – A Velha Ceiuci).

- Espaço e Tempo -
As estripulias sucessivas de Macunaíma são vividas num espaço mágico, próprio da atmosfera fantástica e maravilhosa em que se desenvolve a narrativa. Em seu Roteiro de Macunaíma, Cavalcanti Proença afirma que Macunaíma se aproxima da epopéia medieval, pois “tem de comum com aqueles heróis a sobre-humanidade e o maravilhoso”.
Ainda segundo Cavalcanti Proença, “Macunaíma está fora do espaço e do tempo. Por esse motivo pode realizar aquelas fugas espetaculares e assombrosas em que, da capital de São Paulo foge para a Ponta do Calabouço, no Rio, e logo já está em Guarajá-Mirim, nas fronteiras de Mato Grosso e Amazonas para, em seguida, chupar manga-jasmim em Itamaracá de Pernambuco, tomar leite de vaca zebu em Barbacena, Minas Gerais, decifrar litóglifos na Serra do Espírito Santo e finalmente se esconder no oco de um formigueiro, na Ilha do Bananal, em Goiás”.
Macunaíma é um personagem outsider, enquanto marginal, anti-herói, fora-da-lei, na medida em que se contrapõe a uma sociedade moderna, organizada num sistema racional, frio e tecnológico.
Assim, o tempo é totalmente subvertido na narrativa.
O herói do presente entra em contato com figuras do passado, estabelecendo-se um curioso” diálogo com os mortos”. Macunaíma fala com João Ramalho (século XVI), com os holandeses (século XVII), com o pintor francês naturalista Hercule Florence (século XIX) e com Delmiro Gouveia (século XIX) – pioneiro da usina hidrelétrica de Paulo Afonso e industrial nordestino que criou a primeira fábrica nacional de linhas de costura.

- Enumerações e desregionalização -
O leitor mais atento de Macunaíma perceberá a abundância de enumerações na obra. Já na primeira página da obra encontrará a enumeração das danças tribais: “...freqüentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cacuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.”
Essas enumerações mostram o trabalho de pesquisa de Mário de Andrade, freqüentemente misturando elementos de várias regiões do país, que com isso pretende desregionalizar sua obra, procurando “conceber literariamente o Brasil como entidade homogênea – um conceito étnico nacional e geográfico”.
A grande estudiosa da obra de Mário Telê Porto Ancona Lopez resume bem o problema: “Mário de Andrade realizava em suas leituras pesquisa de palavras, termos e expressões características dos diversos recantos do Brasil. Grifava e recolhia. Depois os empregava, nos conjuntos os mais heterogêneos, procurando anular as especificações do regional, e dar uma visão geral de Brasil... É, pois, graças à coleta de palavras que Mário de Andrade desenvolve a idéia de que Macunaíma pode apresentar tão freqüentes enumerações de aves, peixes, insetos ou frutas. Essas enumerações, além de válidas para a quebra do regionalismo, contribuem para a criação de ritmo de embolada, alternando sílabas longas e breves, no trecho em que se inserem. Ritmo procurado, aliás, porque o autor não usa vírgulas.”

- A carta pras Icamiabas –
Precisamente no meio da narrativa, no capítulo IX da obra, encontramos um “Intermezzo”, como o chamava o autor. Trata-se da “Carta pras Icamiabas”, sátira feroz ao beletrismo parnasiano da época.
Macunaíma escreve a suas súditas para descrever-lhes a cidade de São Paulo construída sobre sete colinas, à feição tradicional de Roma, a cidade cesárea, “capita” da latinidade de que provimos.
Com isso Mário de Andrade vai na contramão dos relatos dos cronistas quinhentistas, como Pero Vaz de Caminha, Gabriel Soares de Sousa e Pero de Magalhães Gandavo. Em Macunaíma, é o índio que descreve a terra desconhecida para seus pares distantes. Sem caráter, Macunaíma faz esse relato tomando emprestada a linguagem rebuscada de um Rui Barbosa ou de um Coelho Neto. A paródia torna-se hilariante por conta dos erros grosseiros cometidos pelo falso erudito Macunaíma, que escreve asneiras do tipo “testículos da Bíblia” por “versículos” ou “ciência fescenina” por “feminina”.

Em 1928, publica a rapsódia Macunaíma, uma das obras-primas da literatura brasileira. A história do “herói sem nenhum caráter” é composta da reunião de lendas e mitos indígenas. Ao criar um personagem que vem da mata para a cidade de São Paulo, Mário de Andrade inverte os relatos dos cronistas quinhentistas.

Com um estilo que tenta ser pomposo, Macunaíma enuncia, na “Carta pras Icamiabas”, o slogan que irá adotar para definir os problemas do Brasil: “tudo vai num descalabro sem comedimento, estamos corroídos pelo morbo e pelos miriápodes! Em breve seremos novamente uma colônia da Inglaterra ou da América do Norte!... Por isso e para eterna lembrança destes paulistas, que são a única gente útil do país, e por isso chamados de Locomotivas, nos demos ao trabalho de metrificarmos um DÍSTICO, em que se encerram os segredos de tanta desgraça: ‘Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são.’ Este dístico é que houvemos por bem escrevermos no livro de Visitantes Ilustres do Instituto Butantã, quando foi da nossa visita a esse estabelecimento famoso da Europa.”
O slogan recupera o conhecido poema de Gregório de Matos (1636-1695), no qual o poeta satírico baiano enumera as vilezas do país, terminando cada estrofe com o irônico refrão: “Milagres do Brasil são”. Remete, também, à frase do cronista Saint-Hilaire: “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”.

Macarronada antropofágica: brincadeira em torno da Antropofagia, importante movimento modernista concebido por Oswald de Andrade, e cuja linha mestra de pensamento consistia na “deglutição” das demais culturas do mundo pela cultura brasileira. Seria o Brasil, em termos antropofágicos, exatamente o que é a estrutura de Macunaíma em termos literários: a grande mistura, a grande miscelânea, de tudo.


Resumo: “Macunaíma” – o herói sem nenhum caráter de Mário de Andrade
Macunaíma, o mais importante anti-herói de nossa literatura, é chamado todo o tempo de “herói”. Nasceu em plena floresta Amazônica. Perde Ci, a mãe do mato, e a pedra muiraquitã por ela deixada, que cai nas mãos do gigante Piaimã, ou Venceslau Pietro Pietra. O herói parte então para São Paulo ma companhia dos irmãos, Maanape e Jiquê, para retomar a pedra. A caminho, lavam-se em águas mágicas e, todos “pretos retintos, transformam-se: Macunaíma fica branco, louro de olhos azuis”, Jiquê fica da “cor do bronze novo” e Maanape continua negro, mas com a palma das mãos e a planta dos pés rosados. Essa passagem remete à lenda indígena da formação das três raças.
Em São Paulo, Macunaíma, depois de passar por várias peripécias, consegue encontrar e derrotar o gigante, reaver a pedra e voltar para a floresta. Lá, é perseguido pelo minhocão Oibe e, enganado pela Uiara, perde novamente a pedra. Cansado, ferido, sem uma perna, sozinho, pois tinha perdido os irmãos, o herói resolve abandonar este mundo e se transformar na constelação Ursa Maior.
Como um mito de libertação do inconsciente coletivo, Macunaíma é uma personagem que se metamorfoseia de acordo com as necessidades e circunstâncias, sem apresentar um caráter definido. Ele pode também simbolizar uma síntese da cultura e da mentalidade brasileiras, que não têm uma linha precisa de resistência, sendo uma mescla de influências.

Muiraquitã: dá poderes sobrenaturais para Macunaíma, simboliza o encontro consigo mesmo, ao encontrá-lo, ele retorna para casa. A iniciação se dá através do muiraquitã (talismã) que proporciona uma viagem de si mesmo. (Busca da identidade)
Boa leitura!

3 comentários:

  1. Eii Amâncioo.. muito legal seu blog.. vai nos ajudar muitoo! hahaha.. beijoo!

    Ana Carmen

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  2. muito obrigado mesmo me ajudou muito a montar um seminário , nossa valeu mesmo

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